segunda-feira, 19 de novembro de 2007

O CAMINHO DO VENTO

”Anos passam como os ventos,
do caminho do vento.”

Lembro-me tanto daquele tal caminho que passava junto com minha babá, Neusa, chutando pedrinhas e catando moedas quando era pequeno. Um caminho estreito com árvores variadas de ramos compridos, paredes brancas sutilmente pichadas e de calçada mal cuidada. Por ser estreito e arborizado, era sujeito a todos os tipos de ventos, desde a mais forte ventania, onde se podia ouvir o forte ruído das árvores balançando, galhos quebrando, folhas caindo e se arrastando pelo chão ou de leves brisas, aquelas que produzem nas árvores sons sutis de folhas batendo e que nos possibilitam escutar o canto agudo dos passarinhos.
Poderia ser para muitos só mais um caminho dessa cidade atípica, porém havia nele uma ligação com o vento que o tornava para mim único. Não importasse onde meu destino fosse sempre tratava de incluir o “caminho do vento” no meu trajeto. É difícil descrever o que sentia atravessando aquele trecho, parecia que cada vez que por lá passava uma paz diferente tomava meu corpo. Refletia sobre tudo, me dava conta de como havia uma beleza particular em cada canto que olhava. Lembrava de pessoas queridas, era como que se naquele momento todas aquelas pessoas que eu tivesse carinho estivessem ali caminhando comigo, mas era só eu, Neusa e o vento.
Passaram-se anos, e eu seguia sempre cruzando o tal caminho, até que então me vi caminhando sozinho. Já dispensava a companhia de um adulto ao meu lado, me sentia independente e crescido, mas o vento continuava ali com seus mesmo efeitos. Andava agora por minha conta, porém o caminho mantinha aquela brisa leve no verão, a ventania forte no inverno e os ventos constantes na primavera. Estava fisicamente solitário, entretanto me sentia sempre confortável e acompanhado caminhando por ali.
Nunca mais passei por lá, não sei se ele ainda existe ou foi destruído, porém sempre que sinto um vento sutil ou uma ventania, me lembro de Neusa, minha infância e do Caminho do Vento.

Crônica de GUILHERME BAPTISTA SCHWARTSMANN

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